A Hipotermia do Couro Cabeludo para Reduzir a Perda de Cabelo

maio 23, 2019

Infelizmente a queda de cabelo é um dos efeitos colaterais da quimioterapia. Vou falar hoje sobre a hipotermia, um tratamento que está sendo utilizado com sucesso para diminuir a queda de cabelo dos pacientes em quimioterapia.

 touca gelo quimiomerapia

O que é o a hipotermia

Perder o cabelo pode abalar muita gente e é absolutamente normal pois o cabelo é a moldura do rosto. O tratamento consiste na utilização de uma touca que resfria o couro cabeludo por períodos durante a aplicação dos medicamentos.

A hipotermia resfria o couro cabeludo com pacotes de gelo ou toucas de resfriamento. Esta técnica é aplicada por um período de tempo antes, durante e após cada tratamento de quimioterapia. A hipotermia previne e reduz a perda de cabelo.

As versões mais avançadas desse tratamento usam um sistema de captação de refrigeração controlado por computador. O paciente usa uma touca onde o líquido resfriado circula com ajuda de uma máquina, durante cada quimioterapia. Uma segunda touca, feita de neoprene, cobre a touca de refrigeração para mantê-la no lugar e evitar que o frio escape.

 

Como o tratamento funciona

Acredita-se que o resfriamento acaba contraindo os vasos sanguíneos do couro cabeludo. A contração então acaba por reduzir a quantidade de quimioterapia que atinge as células dos folículos pilosos. Quanto menos substâncias atingem os folículos, menos fios de cabelos caem. Assim a queda diminui porque a contração acaba por proteger os fios

O resfriamento diminui a atividade dos folículos pilosos. Isso torna estes folículos menos afetados pela quimioterapia, já que ela tem como alvo as células que se dividem rapidamente. Assim o efeito da quimioterapia nas células foliculares é reduzido, e uma boa parte do cabelo é preservado.

 

Os benefícios e efeitos colaterais

Pesquisas dizem que pelo menos metade das mulheres que receberam quimioterapia para câncer de mama em estágio inicial e usaram a terapia perderam menos da metade de seus cabelos. Os efeitos colaterais são dores de cabeça, desconforto no pescoço e ombro, calafrios e dor no couro cabeludo.

A validade e o resultado da hipotermia para preservar os cabelos está relacionada com tipo de medicamentos quimioterápicos utilizados. Também influem a dose de quimioterapia e a capacidade que cada paciente tem para tolerar a sensação de gelado.

Pesquisadores acreditam, que quem possui cabelo mais grosso perde mais cabelo do que quem tem cabelo fino. Isso seria porque o couro cabeludo não arrefece junto ao efeito isolante do cabelo. É preciso tomar cuidado com o ajuste das toucas pois qualquer descontrole pode acabar piorando a queda do cabelo.

 

Sobre a segurança do método

Muitos médicos questionam a segurança do tratamento. Alguns alegam que o frio poderia fazer a quimioterapia atingir as células do couro cabeludo. Outros acreditam que o resfriamento poderia impedir que a quimioterapia chegue às células cancerosas do couro cabeludo, permitindo assim que cresçam e sobrevivam à quimioterapia. Estudos mais aprofundados são necessários para afirmar estas suspeitas.

 

Os prós e contras

Os sistemas mais novos como DigniCap e Paxman, foram aprovados pelo órgão regulador de alimentos e medicamentos dos Estados Unidos, o FDA (US Food and Drug Administration). Muitos tipos antigos de dispositivos de hipotermia podem ser alugados ou comprados on-line. Nos Estados Unidos existem centrais de de tratamento de câncer que permitem que os pacientes os utilizem sem custo.

Se você está lendo este artigo, está em tratamento e considera usar a hipotermia, é importante pesar os benefícios e riscos. Discuta com seu médico e se informe com outros pacientes que já utilizam a técnica. Também é importante pensar no custo. A maioria dos planos de saúde não cobre este tratamento e é importante se informar junto ao seu plano se existe alguma possibilidade de cobertura.

 

Acompanhe agora o depoimento da Diana, minha paciente que passou por quimioterapia e realizou a hipotermia do couro cabeludo durante as sessões.

Sou a Diana, mãe da Mariana, esposa, filha, amiga, Defensora Pública e descobri aos 32 anos que teria que me tratar para curar um câncer.

Essa doença não era uma desconhecida para mim. Há pouco tempo acompanhei de perto o tratamento de minha mãe e de uma tia querida. E nestes momentos a queda do cabelo não foi vista como um enorme obstáculo.

Lembro da minha tia com um lenço lindo e azul na cabeça, sorridente na formatura de meu primo, filho dela, ainda presente e alegre. Minha mãe também não deixou escapar nenhuma lágrima quando fui com ela no salão de beleza para raspar os fios que tinham começado a cair.

Mas acho que comigo foi diferente. Ninguém é capaz de sentir o que o outro sente e eu nunca vou conseguir saber qual foi o real sentimento delas.

Eu sofri muito nos primeiros segundos quando a mastologista da minha mãe disse que eu precisaria me tratar. Revelou, muito carinhosamente, que esse tratamento faria meu cabelo cair. Meu mundo caiu. Nunca tive qualquer dúvida de que venceria esta doença mas passar tanto tempo me vendo tão diferente foi muito duro, doído.

 

“Cabelo cresce”. “É só o cabelo”. “Cabelo é o de menos”.

Por favor, se você quer dar apoio a alguém que está em tratamento não fale isso. Isso não é uma novidade para quem escuta. Esse tipo de afirmação soa como uma minoração de uma dor que é real.

Uma dor entre outras muitas, mas ainda assim, uma dor. Se não tiver o que falar, mande um beijinho (eu adoro aquele emoticon que sai um beijinho em formato de coração). Ou um abraço, não é preciso falar, ou simplesmente diga “vai ficar tudo bem” isso já ajuda.

Existe uma chance

Tudo isso, foi só para dizer que já existe uma chance. Uma chance de passar por todo tratamento do câncer, fazer a bendita quimioterapia e continuar com os fiozinhos na cabeça. Depois do susto inicial, com um apoio sem tamanho de todos que me acompanham, (principalmente Ari e Ray) eu optei por fazer a quimioterapia em conjunto da crioterapia.,

Esse tratamento consiste na utilização de uma touca de gel bem gelada, mas bem gelada mesmo. Esta touca me é colocada sobre a cabeça alguns minutos antes da infusão do medicamento responsável pela queda do cabelo. E eu fico com ela até cerca de pouco mais de meia hora depois do fim desta aplicação.

Além de ficar a manhã inteira congelando meus cabelos, há vários outros cuidados que servem para aumentar as chances de manter as madeixas. Como nunca prender os cabelos, pentear e lavar o mínimo possível e com um shampoo específico.

Esquecer o condicionador, o secador, a prancha e o babyliss. Evitar qualquer coisa que possa puxar o cabelo ou fazer qualquer fricção no couro cabeludo. Isso inclui usar uma fronha que diminua esse atrito, a minha é de cetim. Há relatos de dor de cabeça em quem faz uso dessa técnica. Eu quase não tive, mas é muito gelado, acho que até agora estou tendo sorte.

E tudo isso vale a pena? Muito!

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Eu já fiz 11 sessões de quimioterapia e meu cabelo continua comigo. Nem tão forte, nem tão firme, mas aqui, já caiu muito, mas os que ficaram me deixam contente. Ainda faltam 5, mas todo dia é uma vitória. Quando me olho no espelho, reconheço o reflexo que vejo. Ainda somos velhas conhecidas e isso ajuda muito, inclusive no tratamento.

Sempre achei que o cabelo bonito é muito importante na autoestima, e se a autoestima anda bem, fica mais fácil de enfrentar os outros problemas. A propósito, o tratamento contra o câncer vai muito bem, beijo no ombro para ele! O nódulo agora é quase imperceptível, um sucesso. Tenho certeza que essa vitória diária também é responsável por me aproximar da cura.

Com cabelo, carequinha ou com lenço, cada um deve usar as armas que tem para vencer essa batalha. Com toda a certeza a possibilidade de manter os cabelos durante o tratamento é um grande avanço.

 

Obrigada Diana por compartilhar tão linda e emocionante história, tenho orgulho da guerreira que se mostrou neste tratamento!

Dra. Alessandra Morelle