“Todos temos um câncer dormindo”, é o que afirma o neurocientista francês David Servan-Schreiber, especialista em oncologia. Segundo o cientista, assim como todo organismo vivo, o corpo humano fabrica células defeituosas permanentemente, que dão origem aos tumores. “Mas o corpo é também equipado com múltiplos mecanismos que lhe permitem detectá-los e contê-los”, explica. Assim, o neurocientista deu vida à teoria mais respeitada na atualidade sobre o surgimento de neoplasias malignas correlacionado a hábitos pouco benéficos à saúde. “O câncer pode surgir a qualquer momento. O que a gente pode fazer é não criar um ambiente propício para ele se desenvolver – e isso passaria por adotar um estilo de vida saudável”.
Um levantamento feito pelo World Cancer Research Fund International aponta que cerca de um terço dos tipos mais comuns de câncer podem ser prevenidos com dieta balanceada, peso saudável e atividades físicas regulares. Ainda, de acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), de todos os casos no Brasil, entre 80% e 90% estão associados a fatores ambientais – o meio em geral (água, terra e ar), o ambiente ocupacional (indústrias químicas e afins), o ambiente de consumo (alimentos, medicamentos) e o ambiente social e cultural (estilo e hábitos de vida). É claro que não é possível estabelecer uma relação causa-efeito diretamente, mas a maioria das evidências envolvendo a prevenção vem de estudos epidemiológicos observacionais, ou seja, se constata que em um grupo de pessoas com determinados hábitos há mais ou menos casos de câncer.
Assim, especialistas elencaram as 4 atitudes que podem mudar a direção de uma vida contra o câncer:
Atenção ao peso corporal
Manutenção do peso corporal dentro dos limites do índice de massa corporal (IMC). O limite saudável para adultos é o IMC de 18,5 a 24,9 kg/m². No Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde, realizada no ano de 2019, apontou aumento do excesso de peso da população acima de 20 anos, que depende do sistema de saúde pública: de 47% para 58% em homens, e de 48% para 59% em mulheres.
Bebida alcoólica
Evitar o consumo de qualquer tipo e quantidade de bebida alcoólica, pois não há limite seguro de ingestão. Comparando os dados da Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 e 2019, é possível observar que a prevalência de consumo de bebida alcoólica em adultos, com idade superior a 20 anos e que dependem exclusivamente do SUS, aumentou de 50% para 96% em homens, e de 23% para 97% em mulheres.
Carne processada
Reduzir o consumo de carnes processadas, tais como presunto, salsicha, linguiça, bacon, salame, mortadela e peito de peru defumado. Os impactos desse consumo recaem sobre o tipo colorretal e pesquisas mostram o aumento progressivo da ingestão desses alimentos pelas famílias brasileiras nos últimos 15 anos.
Atividade Física
Estar fisicamente ativo como parte da rotina diária, limitando os hábitos sedentários, como passar muito tempo assistindo televisão e usando o celular ou o computador. Praticar atividade física, no mínimo, três vezes por semana, de forma ininterrupta. O comportamento sedentário foi associado a um risco aumentado de câncer endometrial, colorretal, de mama e de pulmão
Na contramão da ciência, no Brasil ainda há grande desconhecimento sobre o poder que uma vida saudável tem na batalha contra o câncer. Segundo pesquisa recente realizada em todo território nacional, 69% das pessoas não reconhecem o excesso de peso corporal como um fator de risco para o câncer; 68% ignoram o perigo da carne processada para a formação de tumores; 59% não compreendem que a ingestão de bebida alcoólica em excesso facilita o surgimento de neoplasias malignas; 70% não sabem o quão prejudicial é a falta de atividade física na rotina. Para Servan-Schreiber e as organizações de saúde mundiais, a alimentação é o ponto-chave e, ainda, elenca os melhores alimentos anticâncer: chá-verde, cúrcuma, azeite de oliva, gengibre, alho, cebola, entre outros.