A pandemia de Covid-19 se encaminha para um momento de maior controle de disseminação no Brasil, com a amplitude da cobertura vacinal. Prognósticos a respeito da vida após o coronavírus tornam-se cada vez mais factíveis, mas as sequelas deixadas pela crise social e sanitária causada pelo vírus ainda estão muito presentes e podem levar anos para serem amenizadas. É o caso do impacto da pandemia no retardo do diagnóstico de diversas doenças graves, em especial, o câncer de mama.

O Outubro Rosa ganha força nesse cenário e, neste ano, dá destaque ao estímulo às mulheres para a realização dos exames preventivos e das consultas recorrentes. O período está sendo celebrado no Brasil e no mundo com o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre o câncer de mama, a fim de contribuir para a redução da incidência e da mortalidade pela doença.

Em abril, a Revista de Saúde Pública publicou um estudo que relata a diminuição, em 2020, de 42% do número de mamografias realizadas na rede pública em mulheres entre 50 e 69 anos, se comparado ao ano anterior. Na prática, houve uma diferença de 800 mil exames que deixaram de ser realizados, o que significa, na métrica usual de diagnósticos da doença, cerca de 4 mil casos não identificados. Em média, são verificados 5 casos para cada mil exames feitos no País.

O Ministério da Saúde recomenda que mulheres com idade entre 50 e 69 anos façam a mamografia de rastreamento, um exame de rotina mesmo sem sintomas, a cada dois anos. O Instituto Nacional do Câncer (INCA) destaca que a pandemia não pode ser um entrave para a suspensão do exame e deve continuar sendo feito com a manutenção dos cuidados sanitários, como uso de máscara, do álcool 70% e do distanciamento social.

O INCA também explica que diagnósticos mais tardios significam tratamentos mais invasivos e chances menores de sobrevivência. Por esses e outros motivos, o rastreamento constante é tão importante. Segundo o médico mastologista Arn Migowski, chefe da Divisão de Detecção Precoce e Apoio a Organização de Rede do Instituto, outros trabalhos já mostraram que, mesmo com todas as limitações, “a sobrevida no Brasil ainda é muito boa quando o diagnóstico é precoce, acima de 90%. Então, vale a pena insistir em ações que promovam conscientização sobre a doença”, afirma

No Brasil, o câncer de mama é o tipo mais comum para o sexo feminino, depois do câncer de pele não melanoma. O tumor responde, atualmente, por cerca de 28% dos casos novos de câncer em mulheres. Em 2020, cerca de oito mil casos de câncer de mama tiveram relação direta com fatores comportamentais como consumo de bebidas alcoólicas, excesso de peso e inatividade física. O número representa 13,1% dos 64 mil casos novos de câncer de mama em mulheres com 30 anos e mais, em todo o território nacional, de acordo com dados do INCA.

A postura atenta da mulher em relação à saúde das mamas significa conhecer o corpo e quais alterações são consideradas suspeitas. Por isso, é fundamental para a detecção precoce dessa doença que o autoexame – exame de toque das mamas – seja feito todos os meses, sempre, no quinto dia após a menstruação. Dentre os sinais possíveis de diagnóstico estão surgimento de assimetria na mama, alteração da cor do mamilo, vermelhidão na mama ou no mamilo, secreção transparente, rosada ou avermelhada.

Assim, o autocuidado se mostra fundamental neste momento e é uma ferramenta poderosa, integrante do Outubro Rosa, para a longevidade da mulher. Unindo informação e conscientização é possível atenuar os avanços dos índices dessa doença.