Afinal, o câncer é hereditário?

set 22, 2020

Junto a um diagnóstico de câncer surgem muitas dúvidas vindas de pacientes, seus familiares e pessoas próximas, o que é normal e justificável diante dos desafios que podem surgir durante o tratamento. No entanto, com frequência, muitos dos medos relacionados à doença têm origem em crenças equivocadas. A ideia de que todo tipo de câncer está ligado à hereditariedade é um desses mitos. Por isso, é importante entender esta enfermidade e como ela se manifesta.

O câncer é uma doença genética, ou seja, é causada por alterações nos genes – desde o nascimento (doença congênita) ou por alterações apresentadas ao longo da vida por exposição à radiação, infecção, toxinas e outros fatores. Os casos de cânceres hereditários são transmitidos através das gerações, passados de pais para filhos, e representam apenas de 5% a 10% de todos os casos da doença, segundo estudo divulgado pelo National Cancer Institute (NIH). A pessoa que carrega a alteração genética tem um risco elevado para desenvolver as neoplasias associadas à síndrome durante toda a vida e possui 50% de chances de transmitir a alteração genética aos descendentes, em cada gestação. Também, é importante salientar que nem todos que herdarem a mutação genética necessariamente desenvolverão câncer.

Hoje, é possível identificar mutações causadoras de síndromes hereditárias de câncer por meio de testes genéticos que identificam alterações específicas no material genético coletado por sangue, saliva ou outros tecidos. O exame é realizado em laboratórios especializados e os resultados são avaliados por geneticistas, em busca de um diagnóstico precoce e da redução de riscos. Especialistas explicam que esses testes devem ser cuidadosamente discutidos entre cada paciente e seu médico: “é necessária uma análise muito aprofundada para uma real compreensão de seus benefícios e potenciais complicações”, detalha a oncologista Dra. Mariana Laloni.

Ao todo, foram rastreadas 36 síndromes familiares de câncer, onde alguns membros da família apresentam tumores malignos ou benignos específicos. Em alguns casos as mutações genéticas são conhecidas e em outros ainda não. As síndromes mais comuns são a que dão origem aos cânceres de mama e ovário e aquela que favorece o aparecimento de tumores malignos do intestino, segundo o Centro de Combate ao Câncer.

Ainda não é possível evitar o surgimento da doença, mas em alguns casos é possível tomar medidas redutoras de risco, como a realização de algumas cirurgias preventivas. Além disso, a identificação precoce de um tumor melhora as chances de cura de um paciente. No Brasil, a Agência Nacional de Saúde, que supervisiona as atividades dos convênios e seguros de saúde, determinou que estas instituições devem arcar com testes genéticos para algumas síndromes, desde que certos critérios estejam presentes.

Caso uma família apresente um histórico positivo para o câncer, é importante procurar um médico oncologista e conversar com ele sobre a indicação de aconselhamento genético. O mais importante na prevenção contra o câncer sempre serão as medidas de mudança de hábitos de vida que reduzem o risco para o aparecimento de câncer em qualquer indivíduo, sendo ou não portador de uma alteração genética.